Villes flottantes

Entrevista com Katarzyna Balug, professora assistente de arquitetura na Universidade Internacional da Flórida

Katarzyna, também conhecida como Kate Balug, é professora assistente de arquitetura na Universidade Internacional da Flórida. Nesta entrevista, ela partilha as suas reflexões sobre a elevação do nível do mar e a crise climática, que aborda através de uma perspetiva única: a da imaginação. Segundo ela, a crise climática global é, em parte, uma crise de imaginação, pois, apesar de ser omnipresente, continua difícil de compreender de forma concreta. Kate salienta que, face a este problema global, é crucial pensar além das soluções imediatas e envolver-se em cenários alternativos.

«As alterações climáticas estão em todo o lado e em lado nenhum ao mesmo tempo. É por isso que me fascina o uso da ficção científica, que permite brincar com cenários alternativos», explica. De facto, o pensamento utópico e a criação de futuros possíveis são, segundo ela, ferramentas essenciais para navegar neste contexto incerto. Ela refere-se à ideia de cenários «loucos» que, longe de serem simples projeções futuristas, permitem repensar as nossas ações atuais e os rumos a seguir.

A utopia como ferramenta de reflexão

Para Kate, o pensamento utópico não se limita a uma fuga da realidade. Ela considera-o uma ferramenta epistemológica essencial, que permite libertar-nos das restrições atuais e imaginar um futuro livre dos obstáculos do presente. «Se pensarmos num futuro de 100 ou 200 anos, não precisamos de nos preocupar com os obstáculos de hoje. Podemos imaginar de forma ousada e ambiciosa e, em seguida, trabalhar retroativamente para encontrar os passos necessários para alcançar esse objetivo», observa. É um processo de exploração que permite considerar outros mundos e desafiar os paradigmas atuais, sem se limitar ao que parece ser possível hoje.

A exploração espacial e as suas lições para a Terra

Kate também está interessada em como a exploração espacial pode nos oferecer lições sobre a vida na Terra. Segundo ela, refletir sobre missões espaciais, especialmente as que vão a Marte, nos leva a pensar em sistemas totalmente novos de gestão de recursos e relações humanas. «Se precisamos de missões de nove meses para chegar a Marte, isso requer uma revolução tecnológica na forma como vemos os recursos como ciclos fechados e reciclados», explica.

Para além da tecnologia, ela também estabelece uma ligação com questões sociais mais profundas, em particular a forma como uma sociedade poderia formar-se num ambiente tão extremo e isolado como o espaço. «Como pensar na sociedade se enviarmos quatro astronautas a Marte? Que tipo de personalidades terão de ter para trabalharem juntos sem se destruírem? Essa reflexão leva-a a evocar o lugar da filosofia na exploração espacial, sugerindo que seria essencial enviar não só cientistas, mas também filósofos, para ajudar a refletir sobre as grandes questões da sociedade e da governação, mesmo no contexto espacial.

A história, um terreno fértil para a esperança

Para Kate, a história não é apenas um relato do passado, mas também um terreno fértil para a esperança. Ela incentiva os seus alunos a explorar a história, concentrando-se naqueles que, muitas vezes invisíveis nas narrativas dominantes, desempenharam um papel essencial na evolução das ideias e das tecnologias. « Sempre que há um acontecimento histórico dominante, é preciso olhar para aqueles que estão fora das páginas desse livro de história. É aí que reside a verdadeira esperança», explica.

Ela ilustra o seu argumento evocando a história das primeiras programadoras de computadores, mulheres que, embora desconhecidas e subestimadas, lançaram as bases das tecnologias informáticas atuais. Essa história, há muito ignorada, foi recentemente redescoberta e amplamente reconhecida. «São histórias que merecem ser contadas, e é daí que vem a esperança.» Para Kate, as narrativas marginais lembram-nos que, apesar dos desafios, existem caminhos inexplorados que podem oferecer novas soluções.

Uma educação para o pensamento crítico e a imaginação

Como professora, Kate encontra inspiração na curiosidade e na abertura de espírito dos seus alunos. Ela os incentiva a pensar criticamente e a imaginar alternativas antes que a realidade os obrigue a se contentar com o que parece possível. «Gosto de ensinar alunos de graduação, porque eles ainda estão naquela fase em que a sua visão do mundo é aberta. Eles estão numa encruzilhada e ainda têm a possibilidade de mudar as coisas», conclui.

Para ela, é essencial cultivar esse espírito crítico e essa abertura à imaginação, pois é assim que nascem as ideias inovadoras que um dia poderão transformar o nosso mundo.


Testemunhos do mesmo painel


Miami - USA

Entrevista com Allan Shulman, arquiteto, editor, curador de exposições e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Miami

Entrevista com Jayantha Obeysekera, investigador e diretor do Sea Level Solutions Center

Entrevista com Jeffrey Huber, arquiteto e diretor da Brooks Scarpa Architects

Entrevista com John Stuart, professor de arquitetura na Universidade Internacional da Flórida em Miami e reitor associado da Faculdade de Comunicação, Arquitetura e Artes

Entrevista com Kenny Broad, antropólogo ambiental da Universidade de Miami

Entrevista com Katarzyna Balug, professora assistente de arquitetura na Universidade Internacional da Flórida

Entrevista com Rodolphe el-Khoury, Arquiteto e reitor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Miami

Entrevista com Indrit Alushani, pesquisador associado do Rad Lab da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Miami, e Danielo Guzmann, colaborador do mesmo laboratório e doutor em planejamento urbano