Villes flottantes

Entrevista com Lola Ott, fundadora da associação Octop’us

A Octopus, uma associação fundada em agosto de 2019 em Estrasburgo, destaca-se pelo seu compromisso com a proteção dos oceanos, apesar da distância geográfica do mar. O seu objetivo é sensibilizar, despoluir e preservar os oceanos, com especial atenção à proteção dos recifes de coral e à redução dos resíduos plásticos.

O nome «Octopus», que faz referência ao polvo, símbolo do oceano, é também um jogo de palavras, representando a conjunção de oito cofundadores. O objetivo inicial era ambicioso: «Trazer a temática da proteção dos recifes de coral para Estrasburgo», explica Lola. Em 2019, a associação implantou um recife experimental em Corfu, permitindo o regresso dos cavalos-marinhos ao Mediterrâneo. No entanto, a receção do público em Estrasburgo, onde o oceano parece uma realidade distante, foi mais mista no início. «No início, as pessoas sorriam quando se falava de oceanos em Estrasburgo, mas, aos poucos, as mentalidades foram mudando». Hoje, após cinco anos de atividade, a associação conta com um apoio crescente e é regularmente solicitada para as suas ações de sensibilização

Ações concretas e inovadoras para a preservação dos oceanos

Um dos pontos-chave da ação da Octopus reside na sua vontade de sensibilizar o público para as ligações entre os resíduos terrestres e o seu impacto nos oceanos. Com efeito, «80% dos resíduos encontrados no mar provêm de rios e ribeiros, o que implica uma responsabilidade direta dos habitantes de Estrasburgo».

Um dos projetos emblemáticos da Octopus é a valorização dos resíduos plásticos através da iniciativa Precious Plastic. Este movimento, nascido na Holanda e agora ativo no Grande Leste da França, permite reciclar resíduos plásticos em objetos úteis. A associação é a única representante desta iniciativa na região. Os cidadãos são convidados a participar, trazendo os seus resíduos plásticos e utilizando máquinas especializadas num laboratório experimental chamado Octolabo, localizado em Estrasburgo. Estas máquinas permitem transformar o plástico em objetos reutilizáveis, contribuindo assim para a redução da poluição.

Além da gestão do plástico, a Octopus também luta contra a poluição por hidrocarbonetos. Na verdade, os cabelos e pelos de animais são usados para absorver até oito vezes o seu peso em hidrocarbonetos. Este método de baixa tecnologia, simples e eficaz, tem um forte potencial para ajudar a tratar marés negras e outras poluições relacionadas com hidrocarbonetos. Ao sensibilizar o público para este recurso inexplorado, a Octopus demonstra que é possível contribuir para a preservação dos oceanos através de soluções simples e acessíveis a todos.

O impacto da ação cidadã e da sensibilização lúdica

Um dos pontos fortes da Octopus é a sua capacidade de tornar as suas ações acessíveis a um público amplo, independentemente da idade, origem ou nível de envolvimento ambiental. «Queremos chegar a todos, desde crianças a adultos, famílias e pessoas afastadas do mercado de trabalho». A associação organiza workshops variados, que vão desde a criação de objetos reciclados a eventos lúdicos de sensibilização.

Por exemplo, a animação com purpurina biodegradável, utilizada para abordar o tema dos microplásticos e o seu impacto na saúde e no ambiente, tem um grande sucesso. Os participantes, jovens e menos jovens, pintam-se com purpurina, ao mesmo tempo que tomam consciência dos desafios ecológicos por trás deste ato aparentemente inofensivo. A associação atinge tanto adultos como crianças, especialmente em eventos como festivais e intervenções em escolas.

Uma pedagogia ativa e parcerias locais e europeias

A Octopus desenvolveu ferramentas pedagógicas originais, como o jogo Re-Cycle le plastique, que permite compreender o ciclo de vida dos resíduos plásticos, desde a sua origem até à reciclagem. O jogo, baseado num sistema de dominós gigantes, foi concebido para ser compreensível por todos, sem texto, mas através de imagens explicativas. Esta abordagem lúdica permite educar todo o tipo de público, incluindo os mais jovens, de forma interativa e sem culpabilização.

As ações da Octopus também se estendem ao nível europeu, onde a associação colabora com outras estruturas, nomeadamente a marca Si Si La Paillette, especializada em maquilhagem biodegradável. Estas parcerias permitem reforçar o impacto das ações locais e criar ligações entre a sensibilização em Estrasburgo e as iniciativas à escala europeia.

Um alcance europeu e um enraizamento local

A associação Octopus não se limita a ações em Estrasburgo, embora a cidade seja o seu ponto de ancoragem. «Intervimos tanto a nível local como europeu, nomeadamente através do Erasmus+, enviando jovens para o estrangeiro».

Além dos seus projetos concretos, a Octopus também participa em cimeiras internacionais, contribuindo para discussões sobre a proteção da água, a legislação ambiental e a estruturação de políticas públicas relacionadas com os oceanos. A Octopus faz parte da Octopus Network, que reúne 43 países em todo o mundo. Esta rede global permite à associação colaborar com outros atores da proteção dos oceanos à escala mundial.

A importância do direito na proteção dos oceanos

Durante a sua pesquisa, Lola percebeu a importância dos corais para o equilíbrio planetário. «Os oceanos absorvem até 50% do dióxido de carbono, e é graças a ecossistemas como os recifes de coral que essa absorção é possível». Esta descoberta levou-a a questionar-se sobre a proteção jurídica dos corais. «Os corais são um híbrido entre um animal, um mineral e um vegetal, mas, juridicamente, estão muito mal protegidos». Existe um vazio jurídico em torno da sua proteção, especialmente quando comparados com outros animais. A associação trabalha, portanto, para preencher essa lacuna jurídica, desenvolvendo soluções concretas e sensibilizando para a legislação.

Lola também menciona a importância da legislação, embora, na sua opinião, a responsabilidade não possa ser deixada apenas nas mãos dos governos, das empresas ou dos cidadãos. «A responsabilidade é partilhada em partes iguais: um terço para os cidadãos, um terço para os governos e um terço para as empresas. Se um destes atores falhar, a proteção dos oceanos não será eficaz.» Ela salienta que a legislação, embora importante, deve ser acompanhada de medidas concretas para ter um impacto real.

A arte como alavanca de sensibilização

A arte ocupa um lugar central na estratégia de sensibilização da Octopus. A associação utiliza suportes artísticos para divulgar as questões científicas relacionadas com a proteção dos oceanos. «O que é bonito atrai a atenção. É mais fácil acreditar no que é visualmente agradável, mesmo que a informação que o acompanha não seja necessariamente tão atraente». É por isso que a Octopus colaborou com designers gráficos, fotógrafos subaquáticos e artistas para desenvolver ferramentas pedagógicas lúdicas.

A transição cidadã: uma ação a todos os níveis

A Octopus pretende oferecer a todos os meios para agir, independentemente da sua idade ou percurso. «A ideia é sensibilizar para a transição verde e azul através da implementação de ações concretas e acessíveis. Oferecemos um espaço onde todos podem se encontrar, quer estejam interessados em educação, produção de objetos reciclados ou ação no terreno».

O objetivo é tornar a ação cidadã acessível. «Não cabe a um único ator resolver o problema. É necessária uma ação coletiva e soluções acessíveis a todos. Cada um pode contribuir à sua maneira», conclui.

Com a Octopus, cada ação, seja ela pequena ou grande, local ou internacional, faz parte de um movimento global em prol da preservação dos oceanos. A associação lembra que, mesmo longe do mar, todos temos um papel a desempenhar na proteção do nosso planeta.


Testemunhos do mesmo painel


França - Strasbourg

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Entrevista com Daniel Bergez, escritor, autor de Ecrire la mer, editora Citadelles & Mazenod