Pierre Bahurel, oceanógrafo, é diretor geral da Mercator Ocean, uma organização europeia especializada em previsões oceânicas.
Sua organização concentra-se em uma descrição completa e explorável do oceano: temperatura, salinidade, fosfatos, nitratos, acidez e muitos outros parâmetros. “Para se ter uma ideia da magnitude, imagine que dividimos o planeta em quadrados com um ponto a cada 4-5 km e descemos assim até o fundo. São milhões de pontos na grade. E a cada 10 minutos, em cada ponto, atualizamos 30 variáveis. ”
Essa abordagem permite acompanhar o impacto da poluição, seja de plástico ou petróleo, e compreender sua evolução no tempo e no espaço. Pierre Bahurel conta: “Quando comecei neste trabalho, houve um desastre petrolífero bastante grave e o ministro do Meio Ambiente disse: ‘É uma pena, não sabemos mais o que está acontecendo agora que o petróleo passou para baixo da superfície’. Isso me irritou: nós sabíamos! Já tínhamos softwares que permitiam acompanhar tudo isso, mas ninguém os conhecia realmente. ”
Uma abordagem colaborativa e europeia
A Mercator Ocean, com sede em Toulouse, colabora com centenas de cientistas em todo o mundo e na Europa, integrando dados e pesquisas provenientes da Itália, Noruega, Dinamarca e outros países. “Implementamos um sistema que cobre todo o globo e, em seguida, divulgamos as informações em todos os continentes. Hoje, temos dezenas de milhares de assinantes e tudo é gratuito, graças ao apoio da Comissão Europeia.”
Segundo ele, a dimensão europeia é essencial: “Foi a Europa que decidiu implementar isso para que todos pudessem ter acesso a essas informações.”
Ele também destaca a importância do conhecimento do oceano para pensar na sobrevivência humana: “Acho que é muito mais importante saber a temperatura da água do que o curso da bolsa e o CAC 40. Eu acho que nas escolas, todas as manhãs, deveríamos dar um indicador sobre o que está acontecendo no oceano e no clima.”
Do filme ao videogame: uma imersão interativa
Tradicionalmente, as previsões oceânicas eram apresentadas na forma de visualizações comparáveis a filmes. Hoje, a Mercator Ocean oferece uma imersão interativa, baseada em simulações. Pierre Bahurel explica: “Nossa ideia é que qualquer pessoa, tenha ela 8 ou 88 anos, possa pegar seu telefone e dizer: ei, eu tenho uma pergunta (…) gostaria de saber de onde vem a poluição que chegou à minha praia?”
Essa interatividade permite analisar a trajetória dos poluentes e compreender seu impacto em escala local e internacional. “Esse exemplo permite compreender que a poluição não tem fronteiras e, portanto, por que é importante ter acordos entre os países para poder agir de forma eficaz.”
A cidadania a serviço do oceano
A tecnologia também permite responsabilizar os cidadãos. Ao simular a dispersão de plásticos e outros poluentes, cada um poderia observar o impacto de suas ações. Por exemplo, poderíamos testar: “Se eu colocar uma tonelada de plástico na praia, clico e vejo para onde vai.”
Graças a essas ferramentas, é possível avaliar as consequências de uma redução parcial da poluição em um ecossistema. “Se conseguíssemos reduzir em 50% o impacto da poluição, conseguiríamos reconstituir um ecossistema. Isso dá bastante esperança. Porque temos provas científicas de que outro futuro é possível.”
Um gêmeo digital para explorar e testar
Este projeto ambicioso é o gêmeo digital do oceano, um modelo 3D interativo que permite experimentar virtualmente as consequências de ações ou decisões. “Podemos navegar em 3D neste videogame. Podemos até testar todas as bobagens que quisermos neste oceano, porque ele é virtual. É um gêmeo dinâmico que permite testar um pouco as coisas, que permite entender como as coisas seriam se tomássemos tal ou tal decisão.”
O gêmeo digital permite centralizar o conhecimento, integrar dados de laboratórios, satélites e boias e torná-los imediatamente acessíveis.
Acesso e perspectivas
A Mercator Ocean disponibiliza suas ferramentas em seu site, bem como por meio do programa europeu Copernicus Marine. O gêmeo digital europeu do oceano, chamado European Digital Twin Ocean, está em desenvolvimento e integra módulos interativos, como a simulação da circulação do plástico ou o rastreamento da trajetória das tartarugas nas praias da Costa Rica. Outros seguirão.
Pierre Bahurel conclui: “Gosto do meu trabalho. Gosto da ideia de que foi a Europa que conseguiu fazer este tipo de coisas. Gosto da ideia de que a informação de que falamos é um bem comum. Vivo neste planeta, tenho o direito de saber o que se passa nele.”
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