Villes flottantes

Entrevista com Rémi Parmentier, cofundador da Greenpeace França e cofundador do Varda Group, uma consultoria especializada em desenvolvimento estratégico e defesa de causas

Rémi Parmentier era um defensor do oceano que lutava pela sua proteção há mais de 50 anos. A sua paixão pela causa marinha não diminuía, muito pelo contrário. Aos 70 anos, continuava a lutar com a mesma energia. «É preciso agir para combater a eco-ansiedade», acrescentava, dando assim o tom da sua mensagem: era um fervoroso defensor da ação concreta

No Fórum do Mar em Bizerte, em 2024, tivemos a honra de o conhecer. Hoje, partilhamos convosco as conversas ricas e inspiradoras desse encontro.

Tornar a proteção do oceano a norma

Rémi Parmentier partilha a sua visão para o futuro da proteção dos oceanos. «A minha ambição é tornar a proteção do oceano a norma e não apenas a exceção.» Segundo ele, os defensores do oceano devem parar de implorar aos governos para proteger as zonas marítimas e, em vez disso, deve ser a indústria a provar que as suas atividades não prejudicam o oceano. «Inverter o ônus da prova», ou seja, obrigar as indústrias extrativas a provar que as suas ações não destroem o equilíbrio do oceano.

Uma campanha por um tratado global sobre a poluição plástica

Nesta dinâmica de mudança, ele lançou a iniciativa Let’s Be Nice to the Ocean, em referência à cidade de Nice, onde se realizou a conferência da ONU sobre os oceanos em junho de 2025. Nela, defende um programa que visa tornar a proteção dos oceanos «a norma». Além desta iniciativa, participa ativamente numa negociação internacional para estabelecer um tratado da ONU contra a poluição plástica, nomeadamente no Mediterrâneo. Este tratado deverá não só reduzir a produção de plástico, mas também incentivar a reutilização em vez da reciclagem, a fim de evitar a proliferação de resíduos plásticos. «Reutilização não é uso único, é o uso repetido do mesmo produto.»

Três grandes desafios para a proteção dos oceanos

Rémi Parmentier destaca três grandes projetos para a proteção dos oceanos. O primeiro diz respeito às grandes profundezas marinhas, ameaçadas pela mineração e pela pesca de arrasto. «É como enviar um bulldozer para as profundezas do mar», afirma, denunciando uma técnica de pesca devastadora para o ecossistema marinho. O segundo diz respeito ao oceano antártico, em torno da Antártida, uma região particularmente vulnerável aos impactos das alterações climáticas. Por fim, ele menciona o Mediterrâneo, que considera um laboratório para modernizar a Convenção de Barcelona, um tratado internacional assinado em 1975 para a proteção do mar Mediterrâneo. Ele destaca a necessidade de reformar esse tratado para melhor gerir os desafios contemporâneos, como o excesso de turismo e a economia azul.

A história da luta para proibir o despejo de resíduos no mar

Rémi Parmentier lembra-se de uma das suas maiores lutas: a proibição do despejo deliberado de resíduos radioativos e industriais no mar. Essa luta durou 15 anos e culminou em 1993, após a retirada das objeções de vários países, com a proibição dessa prática destrutiva. «Foi uma aplicação do princípio da precaução», recorda, sublinhando a importância de prevenir os riscos antes que se tornem irreversíveis, como aconteceu com as alterações climáticas.

Esperança na ação e na perseverança

Apesar dos enormes desafios, Rémi Parmentier permanece otimista: «Não devemos perder a esperança.» Segundo ele, embora a resposta aos seus esforços seja muitas vezes decepcionante, cada pequena vitória conta. «Não se ganha uma guerra sozinho, mas podemos ganhar batalhas.» Para ele, essas batalhas se somam e podem levar a uma mudança significativa a longo prazo.

Um apelo às gerações mais jovens

Por fim, ele se dirige aos adolescentes, incentivando-os a não esperar para agir: «Se não o fizerem na vossa idade, quando o farão?» Ele aconselha-os a «questionar o status quo» e a ousar tomar iniciativas para proteger o ambiente.


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