Denilson Bezerra é professor do departamento de oceanografia e limnologia da Universidade Federal do Maranhão. Ele dedica as suas pesquisas ao aumento do nível do mar no Brasil e, mais especificamente, à evolução dos manguezais, que estuda como bioindicadores das transformações climáticas.
«O mangue, como se costuma dizer, é o indicador do aumento do nível do mar.»
Segundo ele, esse ecossistema de transição entre o mar e o continente reage diretamente às alterações do nível do mar: pode recuar, migrar para o interior ou resistir à erosão costeira. O Brasil abriga a maior faixa contínua de manguezais do mundo, que se estende do Maranhão ao Pará e ao Amapá, na chamada Amazônia Legal. «O Brasil possui a maior área contínua de manguezais amazónicos», precisa.
Dados insuficientes para avaliar a dimensão do fenómeno
Denilson destaca a falta de dados precisos sobre a elevação do nível do mar no Brasil: «Não temos um acompanhamento medido do aumento da coluna de água no mar. Atualmente, apenas imagens de satélite e teledeteção permitem estimar a sua evolução.
No entanto, as suas observações no terreno na região da Baixada Maranhense revelam alterações significativas. Esta zona de lagoas de água doce está agora a sofrer uma intrusão crescente de água salgada, alterando todo o ecossistema local: «Zonas que antes eram doces estão a tornar-se salobras.» Ele acrescenta: «Começamos a notar uma mudança na fauna piscícola. Os peixes de água doce estão a dar lugar a espécies estuarinas, afetando diretamente a pesca tradicional.»
Impactos na saúde e na vida quotidiana
Estas transformações têm consequências diretas na população. Denilson alerta para a salinização dos lençóis freáticos: «Antigamente, as pessoas perfuravam poços perto dos rios e bebiam a água. Hoje, o rio está a tornar-se salobra.» Ele refere um recrudescimento de doenças relacionadas com esta contaminação, nomeadamente a hipertensão.
Em São Luís, capital do Maranhão, ele constata que as marés estão a tornar-se cada vez mais agressivas: «As ondas estão mais agressivas, já vemos um impacto até mesmo no turismo.» Construções estão ameaçadas, praias estão a ser erodidas e novos manguezais estão a surgir em áreas anteriormente urbanas. «Isso não é necessariamente uma coisa boa, mas é um indício.» »
Uma sociedade em alerta, mas ainda pouco preparada
Segundo Denilson, a sociedade está a começar a tomar consciência do problema. « O próprio setor privado \[…] recorre diretamente à universidade para fazer estudos sobre a elevação do nível do mar.» Ele insiste nessa mudança: a engenharia urbana agora recorre aos investigadores para antecipar os riscos.
Apesar dessa evolução, ele considera a região vulnerável: «O que falta? A elevação do nível do mar é um facto, as pessoas vão sofrer esse impacto, temos de preparar a sociedade para recebê-lo.» Ele apela a políticas públicas antecipatórias em matéria de educação, saúde, infraestruturas e realojamento das populações mais expostas.
«Será que as nossas pontes vão resistir ao avanço do mar?», questiona, referindo-se, nomeadamente, à ponte Francisco ou às habitações sobre palafitas. Ele propõe um programa de adaptação global: «Um programa de formação para essas pessoas, ou seja, um programa de adaptação completo.»
Adaptar-se, porque não há mais volta atrás
Para Denilson, não se trata mais de prevenir um fenómeno, mas de se adaptar a uma realidade inevitável. Ele menciona a topografia baixa da ilha de São Luís e a frequência de fenómenos extremos: inundações, incêndios, tsunamis meteorológicos. Esses eventos, cada vez mais frequentes, tornam a situação crítica.
Seus trabalhos de modelagem mostram que toda a orla costeira de São Luís terá que ser repensada: “Os hotéis terão que ser transferidos, recursos terão que ser alocados para transferir os edifícios de um lugar para outro.”
“O próprio setor privado […] recorre diretamente à universidade para fazer estudos sobre a elevação do nível do mar. Apesar desta evolução, considera a região vulnerável.
O envolvimento crescente dos poderes públicos
Denilson observa uma evolução progressiva na postura dos poderes públicos:
O governo do Maranhão, o governo estadual e os municípios estão a tentar compreender o que se passa.»
Embora os primeiros anos da sua carreira universitária tenham sido mais centrados na engenharia e na pesca, desde 2020, ele constata um interesse crescente pelos efeitos das alterações climáticas. A universidade é agora regularmente solicitada a participar em planos nacionais, como o de combate aos incêndios e à seca, ou em reuniões de especialistas sobre a evolução das zonas baixas do litoral:
«Recorrem às universidades – públicas, privadas, estrangeiras – para compreender o que se passa realmente na nossa zona costeira.»
Políticas em construção: da legislação à adaptação
Face aos desafios, estão em curso reflexões para adaptar a legislação:
«Já estão a pensar numa legislação para combater a subida do nível do mar. »
Estão a ser consideradas políticas de créditos de carbono. Embora tudo ainda esteja em fase exploratória, Denilson destaca um facto importante: «O grande ponto positivo que vejo é que os gestores públicos estão sensibilizados para a discussão.»
Ele cita o Programa Água Potável (PAD), promovido pelo governo do Maranhão com apoio federal, como um exemplo de ação concreta. Este programa visa as comunidades rurais afetadas pela salinização da água doce. Prevê a instalação de mini-fábricas de dessalinização e a formação dos habitantes para a sua utilização.
Reconhecer a dimensão do desafio: um trabalho de fundo a realizar
Denilson insiste, no entanto:
«Estamos apenas no início. »
O litoral do Maranhão é imenso e 47% dos manguezais brasileiros estão localizados lá. Ele pede uma compreensão profunda da situação para evitar que as ações realizadas sejam apenas soluções de emergência.
Uma mudança de paradigma impulsionada pelas novas gerações
Denilson observa uma transformação importante desde as eleições de 2018:
«Até 2018, muitas pessoas questionavam as alterações climáticas, consideravam-nas uma ideologia. Hoje, esse discurso mudou completamente.» Ele evoca a importância do debate, agora mais apaziguado e transversal, até mesmo nas universidades. E, acima de tudo, destaca a crescente consciência dos mais jovens:
«As crianças de hoje, no início do século XXI, serão os próximos adultos, os futuros gestores, ativistas ou cientistas.»
Ele observa que o consumo está a mudar:
«Cresci numa geração de consumo extremo. Hoje, as crianças já são educadas, tanto em casa como na escola, a repensar o seu consumo.»
A educação como alavanca de transformação
Denilson também participa de ações educativas concretas. A Universidade Federal (UFMA) trabalha com escolas nessas questões:
«Apresentamos nossos modelos de simulação da elevação do nível do mar, calculados até 2100, com imagens de satélite. »
Essas ferramentas são utilizadas para sensibilizar os alunos através de suportes visuais impactantes. Para ele, o clima é um tema que não pode mais ser ignorado:
« Não é um programa de esquerda ou de direita. É um programa da humanidade. »
E conclui com esperança:
« O primeiro passo é reconhecer que existe um problema. Hoje, as pessoas estão sensibilizadas, e isso gera um processo de tomada de consciência. »
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