Villes flottantes

Entrevista com Raimundo Nonato Costa de Souza e Maria Auxiliadora Costa Barbosa, casal de agricultores

Tabocal, Maranhão – Nesta aldeia situada às margens do rio Miarizão, os moradores precisam se adaptar constantemente às transformações ecológicas que afetam o seu ambiente. Raimundo Nonato Costa de Souza e sua esposa Maria Auxiliadora Costa Barbosa relatam o seu dia a dia como agricultores e os desafios que enfrentam.

Uma policultura de subsistência

O casal trabalha de forma complementar na sua terra: feijão, milho, quiabo, pimenta-malagueta e verduras crescem na sua horta. Maria cuida principalmente da horta, enquanto Raimundinho se encarrega das culturas de grande porte, como feijão e milho. O seu modelo agrícola baseia-se na autossuficiência e na ajuda mútua. «Nós fabricamos tudo, produzimos tudo. Tudo é nosso.»

Arroz e piscicultura integrados

O casal também experimentou um sistema integrado de arroz e piscicultura, implementado graças a um projeto liderado por agrónomos locais. Raimundinho explica: «Enchemos o lago, que tem uma parte mais profunda e uma zona menos profunda… Quando plantamos o arroz, ele cresce. Depois, aumentamos o nível da água e os peixes vêm se alimentar do arroz, sem que precisemos adicionar ração.» Ele destaca que isso confere ao peixe uma qualidade gustativa superior.

Perturbações climáticas cada vez mais acentuadas

As alterações climáticas são agora palpáveis: «Já faz quatro meses que não chove, com um vento horrível que levanta poeira.» Esta seca prolongada afeta as culturas: «Temos cerca de vinte pimentas que não conseguem dar frutos devido à temperatura.»

Apesar da irrigação regular, as plantas sofrem: «Qualquer planta que ultrapasse os 36 graus não consegue dar frutos.» Raimundinho acrescenta: «Mesmo para nós, há momentos em que o calor é terrível, temos de nos lavar constantemente, beber água e temos sempre essa sensação desagradável no corpo.» »

Pragas mais resistentes

O casal também constata um recrudescimento de insetos nocivos: « Algumas pragas antes raras agora estão por toda parte: «Os feijões estão cheios de cochonilhas… Esta espécie de cochonilha apareceu aqui e destrói tudo.» Raimundinho lamenta: «Se não usarmos um produto para eliminá-las, a planta não dará frutos.»

Uma vida suspensa pelas cheias

Durante as cheias, a família tem de elevar o chão da casa com tábuas e vigas de madeira: «É essa a estratégia: ficar acima da água.» Em 2009, a água permaneceu durante mais de dois meses: «Dois meses para nós aqui, nestas condições, é uma eternidade. »

Cada enchente exige uma grande limpeza depois que a água baixa: «É preciso lavar, esterilizar, branquear, detergentar para poder voltar ao normal.» Apesar do cansaço, eles persistem: «Sim, mas temos que fazer isso, não há outra opção. Temos que lutar.» »

Poluição e contaminação do rio

Raimundinho também observa uma degradação da qualidade da água: «O rio está a ficar muito lamacento. Esta água impede-nos até de regar as plantas, porque às vezes cola-se à planta e queima-a. Ele precisa que a água contém « uma grande quantidade de produtos, fertilizantes provenientes dos campos de arroz, fósforo, nitrogénio, bem como águas residuais provenientes das cidades.

Ele lamenta a falta de acompanhamento: « Não, não há vigilância da água aqui.

Uma mensagem para o futuro

Em conclusão, Raimundinho partilha um aviso lúcido e solene:

«Se não fizermos nada, acho que daqui a alguns anos, quem ficar não poderá mais ver um limoeiro, uma juçara, porque a temperatura terá destruído tudo. »

E a sua esposa Maria, com emoção, acrescenta: «É a primeira vez na minha vida que faço isto… falar… é algo positivo, uma esperança de que as coisas possam melhorar.»


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