Villes flottantes

Entrevista com Adne e Edhino, casal de pescadores

Tabocal, Maranhão – Nesta aldeia situada nas margens de um afluente do delta do Amazonas, as alterações ecológicas tornaram-se tangíveis para os pescadores e apicultores locais. Adne, dona de casa, e seu marido Edinho, pescador de profissão, observam há vários anos os efeitos combinados do assoreamento do rio, da desflorestação e da exploração excessiva dos recursos pesqueiros.

O assoreamento das margens e a expansão dos mangais

Questionada sobre o que observou ao longo dos anos, Adne destaca, em primeiro lugar, as mudanças físicas do rio:

«Tenho observado o assoreamento do rio. As ondas batem nas margens, o solo desmorona e isso provoca o assoreamento.» Ela observa que a água do mar sobe mais profundamente para o interior, alterando o ecossistema:

«Isso elimina a vegetação nativa e dá origem aos mangais.»

Uma pesca cada vez mais difícil

No que diz respeito à pesca, Edinho testemunha uma mudança radical nas práticas e nos rendimentos:

«Antigamente, usávamos muito pouco equipamento e pescávamos muito. Hoje, é preciso investir em muitos equipamentos para obter a mesma quantidade de peixes.»

Essa diminuição dos recursos pesqueiros, segundo ele, se deve em grande parte ao uso de redes inadequadas:

«Muitos pescadores pescam ilegalmente, com redes de malhas muito finas. Eles capturam os peixes antes que eles tenham tempo de se reproduzir.» »

Ele próprio esforça-se por adotar práticas sustentáveis, mas depara-se com a lógica do lucro imediato:

« Às vezes, alertamos outros pescadores, mas a ganância é grande. Ao apanhar peixes pequenos, ganhamos mais dinheiro no momento. Mas se continuarmos assim, um dia nem teremos mais o que comer. »

A apicultura ameaçada pela desflorestação

Adne, que se dedica principalmente à educação das crianças, apoia o marido numa atividade complementar: a apicultura.

Ela precisa que a produção de mel também depende das condições ambientais:

«É no verão que os mangais florescem. Mas houve uma diminuição do pólen devido à desflorestação. Isso afeta diretamente a saúde das colónias de abelhas e a quantidade de mel produzida.

Trinta anos de transformações na paisagem e nos modos de vida

O casal lembra que a paisagem e os hábitos mudaram ao longo de uma geração:

«A paisagem mudou muito com a desflorestação. O calor é mais forte do que antes. Há trinta anos, o rio era o principal meio de transporte. Havia muitos barcos. Desde a chegada da estrada, não há mais nenhum.»

Os relatos familiares atestam a escassez de peixes

«O meu pai tinha duas redes e pescava 600 kg de peixe. Hoje, são necessárias cinco para pescar a mesma quantidade.»

Uma transição para a piscicultura

Edinho, descendente de uma família de pescadores, agora imagina um futuro diferente. Ele está se voltando para a piscicultura:

«Estou começando a trabalhar com a criação de peixes nativos: mandi, cará, camarões de água doce.»

Uma transição que ele justifica pela rentabilidade decrescente da pesca artesanal:

«Hoje, é muito esforço para pouco rendimento.»

A pororoca, uma força da natureza a não subestimar

Por fim, ambos evocam um fenómeno natural espetacular, bem conhecido dos habitantes do delta: a pororoca.

«A pororoca é um fenómeno que vem do mar e, quando chega ao rio, levanta ondas muito fortes.»

Segundo Edinho, ocorrem seis pororocas importantes por ano, relacionadas com os ciclos lunares: «Todos os meses há uma. Mas, ao longo do ano, há seis que são realmente fortes.»


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