Encontrámos Ladir, uma figura emblemática da região amazónica (Belém). Originário de uma comunidade fundada por antigos escravos, Ladir vive muito próximo da floresta. Portador de memórias e histórias, ele evoca com intensidade sua relação com a natureza, suas crenças e sua visão das ameaças que pairam sobre esse ecossistema.
Uma ligação familiar e espiritual com a floresta
Ladir começa por se apresentar de forma simples:
«Sou Ladir, o guardião da floresta. »
Ele especifica que nasceu numa comunidade descendente de escravos:
« A minha avó era filha de escravos. Era uma comunidade de escravos. Vivemos nesta floresta, nascemos aqui e eu amo esta floresta. »
A floresta não é para ele um simples cenário natural, mas um espaço habitado por presenças invisíveis, onde se manifestam visões e lendas antigas.
Segundo ele, a floresta é habitada por espíritos viajantes e seres protetores chamados Curupira, aos quais é preciso pedir permissão antes de entrar na floresta.
Perante a desflorestação: lucidez e desilusão
Questionado sobre a sua visão do futuro e da evolução da floresta, Ladir insiste na urgência de travar a desflorestação: «É preciso evitar a desflorestação. É muito importante. No próximo ano, receberemos todas essas pessoas importantes para a COP, mas isso não adianta nada, porque as pessoas continuam a desflorestar»
Leis sem controlo são ineficazes
Quando questionado sobre o que poderia ser feito para proteger a floresta, Ladir responde com pragmatismo: «Se não implementarmos uma lei verdadeira com controlos, então tudo isso será em vão. É importante preservar a floresta amazónica.»
Com poucas palavras, mas com uma força tranquila, Ladir transmite-nos uma visão do mundo profundamente enraizada na ligação com a floresta. Memória viva do seu território, ele encarna, à sua maneira, uma forma de resistência: entre sabedoria popular, espiritualidade e consciência ecológica. As suas palavras são um apelo claro à proteção das florestas: não com promessas vazias, mas com ações justas, contínuas e enraizadas no respeito por aqueles que lá vivem.
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