Nesta entrevista realizada em Raposa, uma pequena cidade costeira do Maranhão, no Brasil, Eduardo, guia turístico e ex-pescador, partilha a sua experiência sobre as transformações do ambiente costeiro. Entre a observação diária da vida, o recuo dos manguezais, as mudanças nas marés e a responsabilidade humana, ele oferece um testemunho lúcido e comprometido sobre a evolução do seu território.
« Todos os anos, o mar avança um pouco mais. Ele corrói as praias, atinge as casas. Não era assim antes. »
Um testemunho privilegiado do território
Eduardo trabalha há mais de 18 anos no setor do turismo náutico em Raposa. Vindo de uma família de pescadores, conhece intimamente as marés, as dunas, os mangais e as ilhas da região. Observa com preocupação as mudanças ecológicas que ocorreram ao longo do tempo.
«Vi o nosso ecossistema mudar ao longo dos anos, com as estações, as marés, as migrações de aves e peixes.»
Uma pressão humana crescente
Questionado sobre as causas destas transformações, Eduardo aponta a forte presença humana e o aumento do número de barcos nas zonas naturais. O turismo, embora essencial do ponto de vista económico, perturba o equilíbrio ecológico.
«Algumas aves migratórias já não vêm. Fugindo do barulho, da multidão. Até os moluscos abandonaram alguns bancos de areia.»
Ele constata que algumas espécies animais se deslocaram para outras zonas, perturbadas pelas atividades humanas, em particular pelos circuitos turísticos motorizados.
Aquecimento global e deslocamento da vida
Além do impacto antropogénico, Eduardo menciona os efeitos do aquecimento global. Ele observa novos fenómenos migratórios, relacionados com a busca por alimento e as mudanças de temperatura.
«O planeta está a aquecer. As espécies estão a se deslocar, procurando outros lugares para sobreviver.»
A combinação da pressão humana e do clima cria um efeito cumulativo difícil de conter, com consequências visíveis nos peixes, nas aves e nos ciclos sazonais.
O avanço inexorável das marés
Este fenómeno é tangível em Raposa, onde todos os anos as grandes marés avançam mais sobre o continente. O fenómeno intensifica-se entre agosto e dezembro, período das marés mais altas.
«Estas marés atingem as casas. O nível do mar sobe e isso afeta todas as costas do mundo.»
Os habitantes assistem à inundação das suas casas, em zonas outrora poupadas. Embora as marés altas sempre existiram, a sua intensidade crescente é hoje claramente percebida como uma consequência direta das alterações climáticas.
Responsabilidade humana e soluções
Perante este facto, Eduardo apela a uma tomada de consciência coletiva e a políticas ambiciosas. Ele evoca a necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, investir em energias renováveis e abandonar progressivamente os combustíveis fósseis.
«A humanidade tem de parar de poluir, investir na energia solar e abandonar os combustíveis fósseis. »
Para ele, as alterações climáticas não poderão ser contidas sem uma mobilização geral em torno de soluções estruturais.
A educação como alavanca de ação
Eduardo atribui grande importância à educação, que considera uma alavanca poderosa para iniciar uma mudança sustentável.
«É através da transmissão que as pessoas compreendem e mudam. Quando lhes explicamos, elas tomam consciência do impacto dos seus atos.»
Seja uma criança, um pescador ou um empresário, todos, segundo ele, podem ser sensibilizados e agir à sua escala.
Ligar a ciência ao território
Por fim, Eduardo insiste na necessidade de ligar os resultados científicos às realidades do terreno. Ao partilhar os conhecimentos com as comunidades de pescadores, ele espera criar pontes entre o conhecimento académico e o conhecimento local.
« Vamos ao encontro das comunidades para lhes transmitir o que descobrimos na universidade. É juntos que podemos mudar as coisas. »
Para ele, essa circulação de conhecimento é essencial para qualquer estratégia sustentável de preservação do meio ambiente.
O testemunho de Eduardo, baseado na sua experiência quotidiana, revela com clareza as consequências concretas das alterações climáticas nas zonas costeiras. Mostra como é importante ouvir os atores locais para compreender as transformações em curso e considerar respostas partilhadas, à altura dos desafios ecológicos atuais.
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