Villes flottantes

Entrevista com Veena Rao, bióloga

Em seu discurso, Veena destaca o papel crucial que os corais e os manguezais desempenham como escudos ou barreiras vivas. Longe de serem meramente decorativos ou ornamentais, os corais são aliados poderosos que protegem as comunidades costeiras. Os recifes de coral quebram a força das ondas, reduzindo o impacto da erosão e das tempestades nas costas. Enquanto isso, os manguezais desempenham um papel complementar. Suas raízes entrelaçadas seguram o solo, filtram a água e abrigam a biodiversidade essencial, criando um ecossistema. Veena também destaca seu papel crítico no sequestro de CO₂. “Devemos aprender a ouvir a natureza e compreender os mecanismos de resiliência que ela construiu como parte de sua evolução”. Segundo Veena, a resposta às mudanças climáticas não pode depender exclusivamente de soluções tecnológicas.

Captura de carbono: um desafio global

O dióxido de carbono (CO2) é um gás naturalmente presente na atmosfera, mas sua concentração atingiu níveis sem precedentes, exacerbados pela atividade humana. “As quantidades de dióxido de carbono no ar (também conhecido como gás de efeito estufa) nunca foram tão altas.” O acúmulo excessivo é um dos principais fatores que contribuem para as mudanças climáticas, contribuindo particularmente para o aumento das temperaturas globais. Atividades humanas extensivas, como a queima de combustíveis fósseis, a urbanização e a industrialização, são fatores-chave que contribuem para isso.

Soluções tecnológicas para combater o aumento dos níveis de CO2

Veena ressalta que isso precisa ser abordado não como uma questão isolada, mas que é necessária uma “abordagem mais holística”, envolvendo não apenas a redução dos níveis de emissão, mas também a captura ativa do dióxido de carbono atmosférico. Essa solução não é simples, pois requer estratégias variadas e combinadas. Veena indica que as soluções tecnológicas para a captura de CO2 “requerem enormes áreas de terra e a disponibilidade de recursos” para sua implementação. Ela ressalta que, embora a captura de dióxido de carbono “possa nos ajudar a enfrentar algumas ameaças iminentes”, ela “consome muita energia” e continua sendo uma solução intensiva em energia.

Por outro lado, existem alternativas mais ecológicas, como sequestrar o dióxido de carbono e transformá-lo em algo “útil”, como materiais de infraestrutura, como cimento, para atender à crescente demanda urbana. Esse processo, em primeiro lugar, reduz as emissões das fábricas de cimento e, em segundo lugar, captura o CO2 nos materiais de construção. Outras soluções inovadoras são aquelas em que o “sequestro de dióxido de carbono” usa organismos como fungos, que, por sua vez, sequestram o CO2 em “blocos de construção ecológicos”. Essas soluções têm sido utilizadas em projetos de infraestrutura, como a construção de paredes divisórias ou telas acústicas.

Soluções e abordagens naturais: Protegendo e conservando os ecossistemas marinhos

Não há alternativas melhores do que as soluções naturais. Veena enfatiza a importância e o papel dos ecossistemas naturais no sequestro de dióxido de carbono: “As florestas podem sequestrar dióxido de carbono naturalmente e nos devolver oxigênio. Além disso, quando se olha para o litoral, alguns ecossistemas marinhos podem sequestrar CO2 de forma mais eficaz do que qualquer solução tecnológica disponível atualmente.” Ela cita o exemplo da alga marinha, um tipo de alga que se assemelha a florestas subaquáticas. Elas agem como “uma floresta, um ecossistema rico em biodiversidade” e têm a capacidade de absorver concentrações muito mais altas de dióxido de carbono, ao mesmo tempo em que liberam oxigênio, que, por sua vez, protege o ecossistema marinho.

A necessidade de uma abordagem integrada

Hoje, a solução para as mudanças climáticas está em uma combinação de soluções tecnológicas e naturais. “Nenhuma dessas soluções é gratuita. Cada uma tem seus próprios riscos e nenhuma delas é uma solução completa por si só.” No entanto, Veena acredita que “quando integradas, elas podem realmente trazer benefícios”. Ela conclui com uma nota positiva, lembrando-nos que, como cidadãos globais, “é essa ação concertada e escolhas conscientes que devemos fazer para entregar essas soluções integradas”.

Reconstruir barreiras naturais contra o aumento do nível do mar

O aumento do nível do mar representa uma grande ameaça para as cidades costeiras. De acordo com Veena, “uma das maiores ameaças para essas cidades costeiras é o aumento do nível do mar ou chuvas torrenciais, tempestades ou ciclones”. No passado, “barreiras naturais”, como manguezais e recifes de corais, protegiam essas costas contra inundações e erosão. No entanto, essas barreiras foram bastante reduzidas pela atividade humana e pelas mudanças climáticas. “As paredes verdes, formadas por manguezais e outros ecossistemas costeiros, não existem mais, expondo as cidades costeiras a todos esses perigos.”

Restaurar: o ecossistema de manguezais como uma solução viável

“Os manguezais fornecem barreiras naturais contra essas adversidades, evitando inundações e erosão.” Esses ecossistemas “sustentam uma rica biodiversidade de animais e pássaros, criando um vasto ecossistema ao seu redor.” A restauração desses ecossistemas ajudou a prevenir desastres. Veena cita exemplos convincentes, notadamente em Moçambique, Gana e China, onde iniciativas de restauração “reduziram os danos às cidades costeiras”.

Conservar: os recifes de corais como barreira ameaçada

Os recifes de corais, além de serem um ecossistema marinho vital, também atuam como uma barreira natural contra inundações. “Os recifes de coral sempre foram uma barreira natural, protegendo as costas contra inundações e erosão.” No entanto, o aumento da temperatura do oceano é uma ameaça aos corais, levando ao branqueamento e danos aos recifes de coral. Embora muitos esforços globais estejam sendo feitos para restaurá-los, “os recifes de coral são particularmente vulneráveis às rápidas mudanças climáticas.”

Conclusão: necessidade de uma resposta coletiva à crise

As mudanças climáticas exigem uma abordagem coletiva que não apenas combine soluções tecnológicas e naturais, mas também exija uma mudança comportamental em grande escala. Veena enfatiza que “cada pequena ação conta” e que é necessário integrar “soluções ecológicas e tecnológicas para combater efetivamente essa ameaça global”. Seja através da restauração dos ecossistemas marinhos ou da inovação em materiais de construção, Veena ressalta que “a adoção de soluções sustentáveis e o compromisso de cada cidadão são essenciais” para enfrentar essa crise.


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