Villes flottantes

Entrevista com Parikshit Dalal, arquiteto (1/2)

Arquiteto empenhado na conceção de habitações respeitadoras do ambiente, Parikshit Dalal tem uma visão matizada sobre as cidades flutuantes. Embora a ideia possa parecer futurista, ele considera que merece uma reflexão aprofundada, entre potencialidades tecnológicas, adaptações culturais e imperativos ecológicos.

Viver na água: uma ideia antiga, um desafio renovado

«Setenta por cento do nosso planeta é coberto por oceanos», lembra ele, salientando que a humanidade sempre explorou o mar para viajar, pescar e extrair os seus recursos, mas raramente para viver nele de forma permanente. Historicamente, os navios serviram por vezes como habitações temporárias, como nas longas travessias entre a Europa e a Índia.

Hoje, a subida do nível do mar e o aquecimento global levam a considerar novas formas de habitação. «Mesmo em terra, os modos de vida mudaram. As pequenas casas de outrora deram lugar a estruturas cada vez mais altas. Por que a arquitetura no oceano não evoluiria também?»

Entre necessidade e escolha

Para o arquiteto, a vida na água provavelmente não será uma norma universal, mas poderá responder a situações específicas. Algumas zonas costeiras ou ribeirinhas, ameaçadas pela subida do nível das águas, poderiam optar por soluções híbridas, «viver em parte na terra e em parte na água», como etapa de adaptação.

Ele também vê nas cidades flutuantes um laboratório para outras aventuras humanas: «Viver na água é mais um passo em direção à vida no espaço», onde é preciso habitar em módulos compactos, num ambiente não natural para o ser humano. As tecnologias desenvolvidas para um podem inspirar o outro.

Uma alavanca para a consciência ecológica

Segundo ele, viver em contacto direto com a água favoreceria uma mudança de olhar sobre o oceano. Hoje, ele é frequentemente considerado um depósito de lixo invisível, recebendo efluentes e plásticos que acabam por reentrar na cadeia alimentar. «Quanto mais perto da água vivemos, mais desenvolvemos uma relação que nos leva a cuidar dela», afirma, comparando essa evolução à forma como a sociedade aprendeu a proteger as suas florestas.

Pequenas estruturas ou megaprojetos?

Parikshit Dalal distingue várias abordagens. As aldeias flutuantes tradicionais do Sudeste Asiático — no Camboja, no Laos — onde os habitantes vivem na água com escolas, comércios e locais de culto, mostram que um modo de vida sustentável é possível em pequena escala. Em contrapartida, projetos de aterro em grande escala, como os de Dubai ou a expansão histórica de Mumbai, colocam sérios problemas ecológicos: destruição de manguezais, perturbação de ecossistemas, drenagem deficiente.

Ele defende estruturas modestas, respeitosas do meio ambiente, que integrem tecnologias modernas de tratamento de água e produção de energia.

Repensar o debate ecológico

Para o arquiteto, o argumento de que viver na água é, por natureza, mais prejudicial do que viver na terra não se sustenta. «Causamos tanto ou mais danos vivendo de forma convencional em terra firme», diz ele, referindo-se à impermeabilização dos solos urbanos, ao desaparecimento da vegetação e ao agravamento das inundações. O verdadeiro desafio não é o suporte — mar ou terra —, mas «a sensibilidade e o uso correto da tecnologia».

Um campo de experimentação a ser explorado

Ele se recusa a opor os dois modelos e apela para que não se exclua prematuramente uma opção que, a longo prazo, poderia melhorar os nossos modos de vida. «As civilizações humanas sempre prosperaram graças à imaginação. Cometeremos erros, mas temos de tentar. » As lições aprendidas com a destruição dos ambientes terrestres podem inspirar soluções sustentáveis para habitações flutuantes.

Um laboratório de ideias e adaptações

Para Parikshit Dalal, as cidades flutuantes são, acima de tudo, um campo de experimentação. Ele acredita que muitas tecnologias, conceitos e modos de vida evoluirão à medida que os testes forem sendo realizados. « Se as pessoas não tentarem, nunca saberemos se é realmente bom ou mau. » As lições aprendidas com a urbanização terrestre — incluindo os seus erros — podem orientar a conceção de habitats aquáticos mais harmoniosos, reduzindo os riscos e acelerando a procura de soluções ótimas.

Um conceito em exploração

Na sua opinião, é demasiado cedo para decidir: «Ainda estamos na fase de testes.» Ele se recusa a classificar a ideia de viver na água como boa ou má. Os potenciais, assim como os desafios, ainda precisam ser estudados. O importante é manter uma mente aberta: «Toda exploração deve ser incentivada, pois é a imaginação humana e a vontade de ir além do que já foi feito que nos fazem avançar.» »

Os custos, a transição e a implantação costeira

Ele reconhece que a adoção desse modo de vida implicaria investimentos iniciais significativos e uma adaptação técnica. No entanto, ele antecipa um desenvolvimento progressivo, começando pelas zonas costeiras, familiares à vida à beira-mar. A história das civilizações prova isso: «Todas as nossas grandes civilizações se desenvolveram ao longo de grandes rios ou lagos.»

Já existem tecnologias para criar estruturas flutuantes ou anfíbias capazes de se adaptar às variações do nível da água, mas elas terão de lidar com fatores complexos: marés, estações, clima, monções e efeitos ainda pouco conhecidos das alterações climáticas.

Entre atração universal e necessidade real

Para o arquiteto, a atração estética e sensorial dos ambientes aquáticos é inquestionável: o nascer do sol sobre a água, a sensação de abertura, o contacto direto com o elemento. Mas ele também questiona a motivação: «Queremos viver na água por necessidade ou porque é uma ideia sedutora? »

Ele associa essa questão ao fascínio pelo espaço, um lugar sem água, terra e árvores, mas que, no entanto, desperta um desejo de exploração. Para ele, não se trata de um debate a ser decidido, mas de «um trabalho em andamento», em que a reflexão alimenta a tecnologia e vice-versa.

As questões universais de equidade e governança

Seja na terra firme, no oceano ou no espaço, os mesmos desafios se colocam: acesso equitativo aos recursos, proteção dos ecossistemas, direitos das populações. «Abusámos da terra tanto quanto começamos a abusar da água.» Qualquer implantação humana deve, portanto, ser acompanhada de regras que garantam a sustentabilidade e a justiça social, para que todos possam beneficiar da natureza sem comprometer os seus ciclos.

Rumo a um modelo híbrido

Ele imagina um futuro em que a terra e a água se complementariam: culturas hidropónicas em plataformas marítimas para compensar a escassez ou a regeneração dos solos, estruturas aquáticas dedicadas à produção de energia ou ao lazer, utilização alternada dos espaços terrestres e aquáticos. Esta transição progressiva permitiria às populações habituarem-se a este modo de vida, ao mesmo tempo que se aperfeiçoariam as tecnologias e os modelos de governação.

Para ele, o sucesso depende de uma ideia fundamental: «Os conceitos mais amplos de sustentabilidade e equidade devem ser abordados antes de entrar em detalhes técnicos.»


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