Villes flottantes

Entrevista com Pariskshit Dalal, arquiteto (2/2)

Pariskshit Dalal é arquiteto. Nesta entrevista, ele apresenta a sua análise das atuais derivas da urbanização e esboça pistas concretas para repensar a forma como habitamos o planeta.

Rumo a uma reinvenção da arquitetura e da cidade

Pariskshit lembra que a população humana mais do que duplicou em um século, passando de cerca de dois bilhões no início do século XX para quase sete bilhões hoje. Esse crescimento rápido, imprevisto e mal antecipado, provocou uma urbanização maciça, especialmente na Ásia, África, Índia e China. «Ninguém tinha percebido que precisaríamos de alojar tantas pessoas nas cidades», sublinha, denunciando aglomerações «caóticas» que viram a qualidade de vida, do ar e da água deteriorar-se.

O legado dos modelos antigos e o impasse dos subúrbios

Segundo ele, o imaginário coletivo continua marcado pelo modelo ancestral de uma casa individual num pedaço de terra. Esse sonho, transposta para o meio urbano, deu origem aos subúrbios: pequenos lotes, casas geminadas, falta de luz e ventilação. A chegada do automóvel no século XX agravou a situação: « Os carros invadiram todo o espaço que era destinado à circulação de pessoas», tornando as ruas hostis e fazendo desaparecer os espaços abertos.

Os limites do modelo vertical atual

A verticalidade, inicialmente pensada para liberar espaço no solo, foi desvirtuada: « Pegamos nessas torres e as colocamos lado a lado, como nos subúrbios. » Os habitantes sofrem agora com uma « periferia vertical », onde persistem a densidade extrema e a ausência de vegetação. No entanto, surge uma nova demanda: espaços abertos, terraços, jardins, vista desobstruída, afastamento da poluição e do ruído. « Nunca seremos felizes se não vivermos perto da natureza », afirma.

Reintroduzir a natureza e repensar a densidade

Ele propõe a criação de «agrupamentos» urbanos mais pequenos, mas densos, libertando terreno para oferecer vista, sol, ar e biodiversidade. Estes conjuntos seriam ligados por transportes rápidos e eficientes, permitindo reduzir as distâncias entre a casa e o trabalho. O objetivo é limitar a expansão urbana, aproximar os espaços verdes das habitações e evitar trajetos diários exaustivos: «Não podemos passar três a quatro horas da nossa vida diária nos transportes.»

Os materiais do futuro

A reflexão também incide sobre a construção, responsável por um terço das emissões mundiais de carbono. O betão e o aço estão entre os materiais mais poluentes. Ele defende o uso de madeira de bambu, obtida a partir de fibras de caules comprimidos: «Um edifício de 20 andares em aço e cimento equivale a 1000 carros que emitem dióxido de carbono num ano. O mesmo edifício em bambu emite 75% menos carbono. Este material, proveniente de uma erva que cresce em três ou quatro anos, permite reduzir consideravelmente a pegada de carbono, mesmo que o cimento e o aço não possam desaparecer totalmente a curto prazo.

O papel da cultura e da vontade coletiva

Para ele, a economia dominou durante muito tempo o planeamento urbano, relegando para segundo plano as aspirações dos habitantes. Mas ele acredita que «a cultura vai reagir» e que os cidadãos «encontrarão uma forma de dominar a tecnologia, a política e a economia» para impor um modo de vida mais sustentável. A transição terá de combinar inovações técnicas, evolução cultural e escolhas políticas corajosas.

Esperanças e desafios

Ele considera que a população mundial atingirá um pico de nove mil milhões antes de começar a diminuir, o que poderá facilitar a implementação de soluções ecológicas. Mas as alterações climáticas, já tangíveis, exigem uma ação rápida. Os lobbies do petróleo, das energias tradicionais e da construção continuarão poderosos, mas «a sua hora também chegará». Ele apela a uma melhor gestão dos recursos e a uma redução drástica do desperdício: «Na Índia, 40% dos alimentos que cultivamos são desperdiçados. Isso é criminoso.»

O futuro das cidades e da arquitetura, conclui ele, depende de um alinhamento entre o que realmente queremos e os esforços que envidamos: «A energia e a atenção das pessoas deverão se concentrar no nosso modo de vida.»

Inspirar-se na natureza para repensar os nossos modos de vida

Para Pariskshit Dalal, a observação da natureza oferece lições essenciais de eficiência e harmonia. «Olhe para as abelhas: elas vivem em enxames muito densos, em estruturas hexagonais complexas. Encontraram uma forma de viver de forma muito compacta e eficiente. Essa economia de matéria e essa capacidade de criar estruturas sólidas com elementos finos devem inspirar a arquitetura e o urbanismo.

Ele defende um retorno aos materiais naturais, a formas e geometrias inspiradas na vida, não apenas para construir, mas também para organizar comunidades mais eficientes. A educação desempenha aqui um papel determinante: «Quando as crianças pequenas são expostas à natureza, quando lhes ensinamos como ela funciona, essa é a melhor maneira de moldar as suas mentes.»

Cooperação e mutualização: o exemplo da agricultura

A ligação com a natureza vai além do verde. Implica um modo de vida coletivo, solidário e racional na utilização dos recursos. O arquiteto lamenta a fragmentação ineficaz das terras agrícolas na Índia, herança das divisões familiares: «É muito ineficaz cultivar quando se dispõe de parcelas muito pequenas. Ele propõe a criação de cooperativas agrícolas que agrupem os meios de produção para aumentar a eficácia, a produtividade e a prosperidade, transpondo assim para o domínio agrícola a sua visão de unidades urbanas compactas e integradas.

Devolver a primazia à natureza

Ele insiste na necessidade de colocar a natureza no topo da escala de prioridades, antes da tecnologia: «Hoje, é a tecnologia, nós e a natureza. É preciso inverter essa ordem.» Ele cita uma iniciativa realizada em Deli, onde as crianças acompanham o percurso da água, da torneira até às montanhas, para compreender concretamente os ciclos naturais e a cadeia de produção dos recursos. Essas iniciativas, segundo ele, despertam um respeito duradouro e evitam que os recursos sejam vistos como garantidos.

Reconciliar economia e ecologia

O argumento do custo, frequentemente avançado para descartar materiais ecológicos, deve ser relativizado. O que parece mais caro a curto prazo pode revelar-se mais económico a longo prazo. As políticas públicas, os incentivos financeiros e o aumento da produção em grande escala podem inverter a tendência. «Se a procura aumentar, haverá 500 fábricas. Os preços baixarão e o produto ficará mais barato que o aço e o cimento», afirma ele sobre a madeira de bambu.

Ele lembra que os mesmos atores que se opunham às energias renováveis agora investem em energia eólica ou solar. Essa mudança, motivada pela sobrevivência económica e ecológica, acabará por se impor em todos os setores.

Um futuro possível

Apesar da magnitude dos desafios, Pariskshit Dalal permanece confiante: «A questão é simples: quer viver e quer que os seus filhos vivam, ou quer que a Terra entre em colapso?» Para ele, a resposta é óbvia, e é essa evidência que levará as sociedades, as indústrias e os governos a encontrar soluções, mesmo que sejam difíceis e dolorosas.


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